22 de novembro de 2010

10 mandamentos do leitor.


I- Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.
II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves
III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.
IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.
- Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.
VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.
VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.
VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.
IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.
X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

Outro cérebro: Alberto Mussa.

7 Neurônios comentaram.:

Jeannie Maria disse...

Não acho que se deve começar pelos "clássicos". Aliás, aconselho que nem tente ir além de 5 páginas se não gostar...
Histórias são como músicas, tem de ser assimiláveis e de fácil identificação para que entrem no coração ;)
Uma ótima semana,
Baccini.

Eliane Furtado disse...

Eu adorei a descrição do perfil. rssrsrs. Vim dar uma olhada e vou ficar.
Flávio 30 graus por enquanto. Vamos chegar aos 45 em janeiro. Torrar.

Flavih A. disse...

Lindsae: É questão de opinião.
Eu lembro de já ter começado vários livros e não gostar do começo, mas só para não julgar antes de conhecer, tento terminar. E no decorrer da história acabo me apaixonando pelos personagens. É o caso de "Cem ano de solidão", García Márquez, odiei as primeiras páginas, e hoje considero uns dos meus livros preferidos. =)

Mas vai da opinião de cada um.
Eu particularmente, adoro um clássico, como tbm uma literatura 'barata'. Nada de distinções.

Então né? Opiniões e opiniões.
hehe


Eliane: vc vai torrar mesmooo.
45? Minha nossa. rs

Polyandra disse...

também acho que depende da opinião, e é uma questão de gosto mesmo.

mas ótimas dicas,
um beijo

Daniel Savio disse...

Hua, kkk, ha, ha, ler até onde puder, não estou certo?

Mas Agatha Cristhie é massa...

Eu sei que tua anda ocupada menina Flavih, mas não custa dizer que preocupo contigo, não é?

Fique com Deus, menina Flavih.
Um abraço.

Rafael Ayala disse...

Eu queria primeiro agradecer por compartilhar um texto tão bom!
E gostaria de dizer que eu só consegui ler o cem anos de solidão em uma segunda tentativa. Na primeira, não passei da segunda página. E hoje considero um dos meus livros preferidos, quem sabe eu coloque o nome de algum dos meus meninos de Aureliano (brincadeira).

E vamos em frente.
Beijos e abraços
=]

Andrew Magalhães M. Santiago disse...

Adorei esses 10 mandamentos dos leitores. Alguns eu já conhecia, outros não. Ler é realmente imprescindível para quem quer ser um vencedor na vida. Leitura é conhecimento, e a única coisa que a nossa mente nunca se cansa ou se arrepende é de absorver informações.